Quantcast
Channel: Por um punhado de imagens
Viewing all 411 articles
Browse latest View live

Colecção Novela Gráfica 8 - Em Busca de Peter Pan, de Cosey

$
0
0

NOS ALPES SUÍÇOS, À PROCURA DE PETER PAN

Novela Gráfica – Vol. 8

Em Busca de Peter Pan
16 de Abril
Argumento e Desenho – Cosey
Por + 9,90€

Na próxima quinta-feira a colecção Novela Gráfica abre as suas portas ao suíço Cosey, um autor bem conhecido dos leitores portugueses em geral e dos leitores do Público em particular, pois esteve presente com trabalhos seus nas colecções Clássicos da Revista Tintin e Os Incontornáveis de Banda Desenhada, distribuídas com este jornal.
Nascido em 1950, perto de Lausanne, na Suíça, Bernard Cosandey, que os leitores conhecem como Cosey, estreou-se na BD no início dos anos 70, pela mão do seu compatriota Derib, o criador de Yakary e Buddy Longway. Justamente conhecido e premiado pelo seu trabalho na série Jonathan, título incontornável da revista Tintin, Cosey, com Em Busca de Peter Pan, abandona pela primeira vez o seu herói e alter-ego e troca temporariamente as montanhas do Tibete onde decorrem as aventuras de Jonathan, pelos Alpes suíços, que se revelam o cenário ideal desta história de grande poesia e sensibilidade.
 Passada em 1930, a narrativa acompanha Melvin Z. Woodworth, um jovem escritor britânico que vem procurar inspiração para o seu terceiro romance na aldeia de Ardolaz, nos Alpes valesianos, onde tinha estado seu meio-irmão, Dragan Z. Zmadjevic, um músico e compositor, que ali faleceu 10 anos antes. Uma viagem ao passado, pontuada por citações do Peter Pan de James M. Barrie, em que a paisagem da montanha, que Cosey retrata como ninguém, se assume como uma personagem de pleno direito.
Obra que lhe permitiu fugir ao limite das 48 páginas do álbum tradicional, Em Busca de Peter Pan, representa um decisivo passo em frente no percurso de Cosey como criador. Como o próprio refere, Em Busca de Peter Pan foi “o meu primeiro one-shot, feito por volta de 1985, para a colecção Histoires et Légendes da Lombard. Na altura, estava profundamente empenhado na série Jonathan, que estava em grande. Os álbuns vendiam-se cada vez mais, mas sentia vontade de sair por algum tempo daquela rotina. Há muito tempo que queria fazer uma história que se passasse nos Alpes valesianos, que conheço muito bem. O meu editor estava um pouco receoso e disse-me: “O Tibete, sim, pode interessar a muita gente. Mas uma história nos Alpes valesianos, só vai interessar a três suíços…” Mas na editora perceberam que eu tinha necessidade dessa mudança, mas não estavam à espera é que o livro vendesse tão bem, ou até melhor, do que o Jonathan. E sobretudo, Em Busca de Peter Pané um livro que teve, e tem, uma longa vida.”
Publicado inicialmente em dois volumes, Em Busca de Peter Pan juntou o sucesso comercial ao reconhecimento crítico, traduzido   no Prémio do Público na Convention de la Bande Dessinée de Paris, em 1984 e no Grand Prix da cidade de Sierre em 1985. Mais tarde o livro foi publicado num único volume e integrado na colecção Signé, a linha de prestígio da Lombard, E, confirmando essa longa vida que é a marca dos clássicos, Em Busca de Peter Pan chega finalmente a Portugal, dando a conhecer aos leitores nacionais, tanto aos que sonharam ao lado de Jonathan, como os que estão agora a descobrir o trabalho de Cosey pela primeira vez, a obra mais emblemática do autor suíço e a sua primeira novela gráfica.
Publicado originalmente no jornal Público de 10/04/2015


Primeiro Teaser de Batman vs Superman já está online

$
0
0


Previsto para ser divulgado apenas hoje, o primeiro teaser de Batman Vs Superman: Dawn of Justice, já está disponível desde o fim-de-semana, depois de alguém no Brasil ter colocado on-line uma versão pirata.
O filme, dirigido por Zack Snyder, que já tinha dirigido Man of Steel, o último filme do Superman, só estreia no Verão de 2016, mas a expectativa é muita por se tratar do primeiro encontro dos dois maiores heróis da DC no cinema e de se saber que o filme prepara o caminho para a longa metragem da Liga da Justiça, ao introduzir pelo menos dois outros super-heróis, Wonder Woman, interpretada por Gail Gadot e Aquaman, interpretado por Jason Momoa, o Kahl Drogo da série Game of Thrones, que já tinha sido o último Conan.
A escolha de Ben Afleck para o papel de Batman causou grande agitação na Net quando foi divulgada, mas pelo teaser parece que vamos ter um Batman convincente e muito próximo do imaginado por Frank Miller em The Dark Knight Returns, história aonde este filme buscar óbvia inspiração. Um primeiro trailler só deve sair lá mais para o Verão, muito provavelmente durante a Comic Con de San Diego, mas para já temos este teaser, onde podemos ver o Batman de Ben Afleck, o novo Batmobile e o Batplane e ouvir a voz de Jeremy Irons como Alfred.
E se forem aqui, podem ver um vídeo que mostra mais em pormenor o novo fato do Batman, claramente inspirado no Batman do Dark Knight Returns e ter uma visão bastante mais detalhada do novo Batmobile
Interessantes e graficamente muito bem conseguidos, são os dois primeiros posters, que aqui vos deixo, tal como o teaser, legendado em português do Brasil. Enjoy!


Colecção Novela Gráfica 9 - Sharaz-De: Contos das Mil e Uma Noites, de Sergio Toppi

$
0
0

Desta vez, o espaço que o Público me disponibilizou foi bastante mais reduzido do que o habitual, devido ao destaque (natural e compreensível) que o jornal deu à reedição facsimilidada da mítica revista Orfeu. Assim, para além do texto de apresentação, demasiado curto para a importância do livro e para a genialidade do trabalho gráfico de Sergio Toppi, deixo-vos aqui o link do texto que escrevi sobre Toppi para a revista Bang!, aquando da morte do desenhador italiano, e com um punhado de imagens do mais bonito livro desta colecção, que chega hoje aos quiosques de todo o país.

TOPPI REINVENTA AS MIL E UMA NOITES EM SHARAZ-DE

Novela Gráfica – Vol. 9
Sharaz-De: Contos das Mil e Uma Noites
23 de Abril
Argumento e Desenho – Sergio Toppi
Por + 9,90€
No próximo volume da colecção Novela Gráfica, vai estar em destaque o imenso talento de Sergio Toppi, o mestre italiano que é o autor de Sharaz-De, uma adaptação única dos contos das Mil e Uma Noites, considerada como a sua obra-prima.
Nascido em Milão, em 1932, Toppi foi um dos mais inovadores e talentosos desenhadores europeus, premiado no Festival de Lucca de 1992, com o Yellow Kid para Melhor Desenhador. Em 1979, realizou para a revista italiana Alter Alter um conjunto de oito contos inspirados pelas Mil e Uma Noites, reunidos sob o título Sharaz-De. Face ao sucesso da edição francesa de Sharaz-De, publicada em 2000, a sua editora propôs-lhe criar uma continuação, com três novas histórias.
É a edição integral deste clássico incontornável da banda desenhada que os leitores podem descobrir, já na próxima semana. Uma oportunidade única de admirar o seu desenho deslumbrante, em que as personagens parecem cristalizadas numa natureza ameaçadora, o fantástico que emerge das suas histórias e a forma única de pulverizar a estrutura clássica da página, em que a divisão tradicional em tiras e quadrados, dá lugar a uma planificação mais dinâmica e artística, que considera a página como um todo, criando composições de grande equilíbrio e dinamismo. Elementos que fazem da obra de Toppi, algo único e inesquecível.
Publicado originalmente no jornal Público de 17/04/2015

Colecção Novela Gráfica 10 - O Diário do meu Pai, de Jiro Taniguchi

$
0
0

TANIGUCHI REGRESSA AO PASSADO COM O DIÁRIO DO MEU PAI

Novela Gráfica – Vol. 10

O Diário do meu Pai
30 de Abril
Argumento e Desenho – Jiro Taniguchi
Por + 9,90€

Na próxima quinta-feira, a colecção Novela Gráfica acolhe Taniguchi, o mais ocidental dos autores japoneses, com O Diário do meu Pai, uma história intimista e plena de sensibilidade, com laivos autobiográficos, considerada como um dos mais importantes trabalhos do autor nipónico.
Nascido em 1947 em Tottori, no Japão, Jiro Taniguchi começou a sua vida profissional como empregado de escritório, até descobrir que aquilo que queria realmente fazer era desenhar. Nos inícios dos anos 70, começou a publicar os seus trabalhos em diversas revistas japonesas, dando início a uma carreira sólida e prestigiada. Grande conhecedor da BD franco-belga e admirador confesso de autores como Moebius, Schuiten e Tito, Taniguchi, que já desenhou um argumento de Moebius, colaborou com Boilet e Peeters em Tokio est mon Jardin, foi o único autor japonês a ganhar dois prémios em Angoulême, o maior Festival de BD europeu, que lhe dedicou uma grande exposição em 2015.
Em O Diário do meu Pai, Taniguchi conta-nos a história de Yoichi Yamashita um designer que vive em Tóquio e regressa a Tottori, a sua terra natal, depois de uma longa ausência, para o funeral do seu pai. Um regresso às suas raízes, que o leva a evocar a infância e a perceber finalmente o verdadeiro motivo por que o pai abandonou a família.
Taniguchi queria contar uma história que tivesse a sua terra natal, Tottori, como cenário, mas, como refere numa entrevista a Benoit Peeters: “quando me pus a reflectir na história, apercebi-me que, de facto, não sabia quase nada sobre o meu pai. Imaginei então uma personagem que regressa à sua terra natal para descobrir quem era verdadeiramente o seu pai. Comecei a fazer as pesquisas, voltei a Tottori para recolher documentação e aos poucos, a história nasceu (…) A história é inventada, mas os sentimentos e o espírito da história resultam da minha experiência pessoal. Tinha em relação ao meu pai o mesmo tipo de sentimentos que estão descritos no livro. No fundo, durante a minha juventude, tinha a ideia que não queria ser como ele. Achava que a vida do meu pai não era uma vida interessante. Mas depois, descobri que afinal não era bem assim, e é isso mesmo que tento transmitir neste livro”.
Não sendo a primeira vez que os leitores portugueses têm oportunidade de descobrir o trabalho de Taniguchi, pois O Homem que Caminha foi editado em 2005 na Série Ouro da Colecção Clássicos da Banda Desenhada, foi preciso esperar 10 anos para o poder voltar a ler novamente em português, mas desta vez numa edição em capa dura, traduzida directamente do japonês. Também por isso, valeu a pena a espera!
Publicado originalmente no jornal Público de 24/04/2015

A Despedida da Colecção Novela Gráfica

$
0
0

Esta semana chegou ao fim a Colecção Novela Gráfica, com dois volumes distribuídos em dias sucessivos. Mort Cinder, na quarta-feira e Bando de Dois, no dia seguinte. Por isso, o meu texto para o Público foi dedicado aos dois livros em conjunto. Aqui deixo esse texto, prometendo mais para a frente dois textos mais longos, dedicados aos volumes individuais, começando por Mort Cinder, cujo editorial aqui publicarei durante o fim de semana. Até lá, aqui fica o meu último texto para o Público sobre a colecção Novela Gráfica.

A AMÉRICA DO SUL EM DESTAQUE
NO FINAL DA COLECÇÃO NOVELA GRÁFICA

Novela Gráfica – Vol. 11
Mort Cinder
6 de Maio
Argumento – Hector G. Oesterheld
Desenho – Alberto Breccia
Por + 9,90€

Novela Gráfica – Vol. 12
Bando de Dois
7 de Maio
Argumento e Desenho – Danilo Beyruth
Por + 9,90€
A colecção Novela gráfica chega ao fim na próxima semana, com o lançamento em dias simultâneos dos dois últimos volumes da colecção: Mort Cinder, de Oesterheld e Breccia e Bando de Dois, de Danilo Beyruth. Um clássico incontornável da BD argentina e mundial e a obra de confirmação de um novo talento da BD brasileira.
 Assim, logo na quarta-feira, dia 6 de Maio, chega às bancas a versão integral de Mort Cinder, do argentino Hector German Oesterheld e do uruguaio Alberto Breccia. No dia seguinte, é a vez de O Bando de Dois, do brasileiro Danilo Beyruth, fechar esta primeira colecção que o Público e a Levoir dedicam à novela gráfica.

Publicado originalmente na Argentina entre 1962 e 1964 na revista Misterix, Mort Cinderé uma obra de culto, considerada como o ponto mais alto da obra conjunta dos dois geniais criadores, que compreende títulos tão importantes como a série Sherlock Time, as biografias em BD de Ché Guevara e Evita Péron e a versão de 1969 de El Eternauta.
Nascido em 1919 em Buenos Aires, Oesterheld formou-se em geologia, mas cedo optou por se tornar escritor e jornalista, em vez de geólogo. Tendo começado a escrever para os jornais nos anos 40, só 10 anos depois escreveu a sua primeira Banda Desenhada, por sugestão de um editor, pois Osterheld nem sequer era leitor regular, nem tinha qualquer experiência no género. Isso não o impediu de, em menos de 30 anos, entre 1950 e 1976, ano em que “desapareceu” às mãos do exército argentino, ter escrito mais de cento e sessenta histórias para cinquenta desenhadores diferentes, entre os quais Hugo Pratt, o criador de Corto Maltese.
Da sua obra ressaltam títulos incontornáveis, como a série El Eternauta, Sargento Kirk, ou Ernie Pike, mas Mort Cinderé considerado, muito justamente, como o seu mais importante trabalho.
Mort Cinder, como o definiu o próprio Oesterheld: “é a morte que nunca deixa de o ser (...) um herói que morre e ressuscita, e no qual há angústia e tortura". Esta capacidade de morrer e viver de novo, permite à personagem atravessar diferentes épocas e locais da história, dos quais guarda uma memória latente, que é despertada por um qualquer objecto, cuja história está ligada a uma anterior vivência de Cinder. De modo a facilitar o reviver dessas experiências, Oesterheld criou como co-protagonista e narrador da série, a personagem de Ezra Winston, um antiquário amigo de Mort, que tem as feições do desenhador Alberto Breccia.
 O próprio Oesterheld é o primeiro a reconhecer a importância do desenho de Breccia para o sucesso de Mort Cinder, ao dizer: “Há sofrimento, tormento em Mort Cinder. Isso reflecte talvez o meu estado de alma particular, mas o essencial dessa atmosfera vem de Breccia. Há uma quarta dimensão no seu desenho, uma capacidade de sugestão que o distingue da maioria dos desenhadores que conheço. É essa força constantemente aplicada, que dá ao seu desenho todo o seu valor e inflama a imaginação dos argumentistas.”
E o trabalho de Breccia, desenhador de origem uruguaia que fez carreira na Argentina, é não só sugestivo, mas extraordinariamente inovador, misturando as mais diversas técnicas, desde o uso de colagens à utilização de lâminas de barbear como espátulas, para criar páginas únicas, com um preto e branco de alto contraste, que influenciou artistas como José Muñoz e Frank Miller, que no seu Sin City foi beber directamente ao trabalho de Breccia em Mort Cinder.

A luta dos cangaceiros, homens a meio caminho entre o salteador e o guerrilheiro, que combatiam a lei no sertão brasileiro nas primeiras décadas do século XX tem conhecido as mais diversas abordagens, desde a literatura de cordel, o cinema, com filmes como O Cangaceiro, de Lima Barreto (1953), ou Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha (1964) e, naturalmente, a BD, onde para além de diversos autores brasileiros, grandes nomes europeus como Hermann (Caatinga) ou Hugo Pratt (La Macumba du Gringo) abordaram o fenómeno. Em Bando de Dois, Danilo Beyruth revela-se à altura de tão ilustres antecessores, ao criar uma história de vingança, que em termos de planificação e enquadramentos, vai beber muito aos Western Spaguetti de Sérgio Leone. História dura e violenta, contada com grande dinamismo e eficácia, Bando de Dois arrecadou todos os principais prémios da indústria brasileira aquando da sua publicação original em 2010, encerrando assim com chave de ouro a colecção Novela Gráfica.
Publicado originalmente no jornal Público de 01/05/2015

Colecção Novela Gráfica 11 - Mort Cinder, de Oesterheld e Breccia

$
0
0

Nesta colecção Novela Gráfica, este foi um dos livros em que me deu mais prazer colaborar, não só porque conseguimos fazer uma edição que, não sendo perfeita, é possivelmente a melhor disponível a nível mundial, mas principalmente porque que se trata de um livro magnífico, de dois fantásticos criadores. 
Deixo-vos aqui com o editorial que escrevi para este volume, que recupera um texto que fiz em 2009, a convite da Cristina Gouveia,  para o catálogo da exposição Oesterheld: O Homem como Unidade de Medida, organizada pelo CNBDI, numa versão largamente revista, aumentada e actualizada. 
O volume traz também um pósfacio meu sobre o destino trágico de Oesterheld e das suas filhas, que optei por deixar para publicar aqui  mais tarde, possivelmente para o dia 4 de Setembro, dia que, desde 2005, é o "dia de la Historieta", na Argentina, precisamente por ter sido nesse dia, em 1957, que começou a ser publicado na revista HORA CERO, outro grande clássico de Oesterheld, a série El Eternauta.

AS MIL E UMA MORTES DE MORT CINDER

Do inesgotável filão de criadores que fazem da Banda Desenhada argentina uma das mais importantes a nível mundial, dois nomes sobressaem acima de todos. O de Hector German Oesterheld e o de Alberto Breccia.
Considerado muito justamente como o maior argumentista de Banda Desenhada de língua espanhola, H. G. Oesterheld, ao longo da sua carreira de quase três décadas (uma carreira extremamente produtiva, mas que foi tragicamente encurtada pela repressão da ditadura militar argentina) escreveu mais de cento e sessenta histórias para cinquenta desenhadores diferentes. Conciliando a quantidade com a qualidade na sua escrita, Oesterheld soube sempre encontrar desenhadores à altura do seu talento, conseguindo criar as parcerias adequadas a cada projecto. 
De Solano Lopez em El Eternauta, passando por Hugo Pratt em Sgt. Kirk e Ernie Pike, Arturo Del Castillo em Randall, até uma colaboração com Dino Battaglia em Capitan Caribe, foram inúmeros os desenhadores com quem Oesterheld colaborou, mas a sua parceria mais importante foi a que estabeleceu com Alberto Breccia, o desenhador nascido no Uruguai, mas que fez da Argentina a sua pátria. 
A primeira colaboração entre Alberto Breccia e Oesterheld deu-se em 1958, com Sherlock Time, um policial com toques de ficção científica e de fantástico, protagonizado por um detective que podia viajar no tempo (o nome, Sherlock Time, não engana), em que Breccia conseguiu criar um ambiente estranho e fantástico, sem no entanto abdicar de uma representação minuciosa e realista da cidade de Buenos Aires, onde se desenrola a intriga. Ou seja, características que encontramos também em El Eternauta, em que os leitores argentinos descobriram um espaço quotidiano que bem conheciam, a cidade de Buenos Aires, retratada com rigor fotográfico por Solano Lopéz, perturbado por fenómenos extraordinários (no caso de El Eternauta, uma invasão extraterrestre).

José Muñoz, discípulo de Breccia e seu aluno na Escola Panamericana de Artes, onde Hugo Pratt também leccionou, define assim o traço do mestre em Sherlock Time, : “em cada toque de pincel, frio, preciso e rigoroso, encontramos o tempo fechado definitivo de cada desenho. Esse pincel frio, queima”.
Em 1962, ano em que um golpe militar pretende pôr fim à actividade da guerrilha argentina, iniciada três anos antes, começa a ser publicada na revista MISTERIX aquela que é considerada a obra-prima da dupla Breccia/Oesterheld: a série Mort Cinder. Mort Cinder, como o definiu o próprio Oesterheld: “é a morte que nunca deixa de o ser (...) um herói que morre e ressuscita, e no qual há angústia e tortura". Esta capacidade de morrer e viver de novo, permite à personagem atravessar diferentes épocas e locais da história, dos quais guarda uma memória latente. O filósofo argentino Óscar Masotta, compara Mort Cinder a o Fantasma, personagem criado por Lee Falk, salientado o que os separa: “na verdade, Mort Cinder, o “homem das mil e uma mortes”, é uma interessante inversão do esquema que rege a personagem de Lee Falk, o ‘‘fantasma que caminha”, o único herói de BD que morre... (no Fantasma, o personagem não morre, só morrem os homens que vestem o fato de Fantasma, que passa de gerações em, gerações; em Mort Cinder o homem é imortal, só morrem as suas múltiplas incarnações históricas).” O Escritor argentino Juan Sasturainé mais pragmático, referindo: “Mort Cinder é mais um mecanismo do que uma personagem – sendo todos, não é ninguém - que serve de pretexto para tecer histórias sombrias de amor e morte”. E a morte, que Oesterheld considerava a maior das personagens, está bem presente no nome de Mort Cinder, mais um nome que não engana, e que evoca a morte e as cinzas.
Na prática, Mort Cinder é a sequência lógica e natural de outras personagens criadas anteriormente por Oesterheld, pois tal como Sherlock Time, ou o Juan Salvo de El Eternauta, Mort Cinder é mais um herói criado por Oesterheld que está liberto das leis do espaço e do tempo.
 Se no caso de Juan Salvo e Sherlock Time essas viagens são feitas com recursos a máquinas sofisticadas, Mort Cinder viaja através da sua memória e das recordações que ela encerra. Recordações que são normalmente espoletadas por um qualquer objecto, cuja história está ligada a uma anterior vivência de Cinder. De modo a facilitar o reviver dessas experiências, Oesterheld criou como co-protagonista e narrador da série, a personagem de Ezra Winston, um antiquário amigo de Mort, que tem as feições do próprio Alberto Breccia, numa perturbante antevisão do que seria o rosto envelhecido do desenhador, algo que Breccia já tinha tentado antes com Eustáquio Mendez, personagem que aparece en El Ídolo, o segundo episódio de Sherlock Time, e cujas parecenças com Ezra Winston e com o próprio Breccia, são tão evidentes como inegáveis.
Já o rosto de Mort Cinder - que Breccia demorou a encontrar, razão que obrigou Oesterheld a retardar a entrada em cena de Cinder no episódio inicial, Os Olhos de Chumbo - é inspirado em Horácio Lalia, um futebolista argentino que mais tarde se tornaria também ele desenhador.
Demos outra vez a palavra a Oesterheld, desta vez partindo de um texto escrito em 1972, em que a personagem de Ezra Wiston se define na primeira pessoa e tenta explicar quem é Mort Cinder: “as coisas velhas ficam impregnadas da vida que as envolveu. Mas muito poucos conseguem captar as angústias, as emoções que ficaram aprisionadas, fósseis invisíveis, dentro das coisas velhas. Sou uma dessas raras pessoas, daí me ter tornado antiquário. Também sinto fascinação pelos templos, não importa a religião. Tantas preces, tanta dor, tanta esperança, dormem nas paredes de um templo. Também me fascinam as armas, carregadas para sempre com a morte que alguma vez deram. Morte talvez criminosa, talvez libertadora.
Mort Cinder consegue captar melhor, muito melhor do que eu ou qualquer outro, toda essa vida cristalizada para sempre. Mort Cinder é talvez essa vida que ficou incrustada na matéria inerte (nunca direi morte) das coisas. E digo talvez, porque nem eu, que vivi tanto tempo com ele, sei dizer quem é Mort Cinder”.
A partir deste esquema narrativo simples, mas engenhoso e cheio de potencialidades, a série foi sendo construída, de forma não muito planeada e quase mecânica, com o tema dos primeiros episódios a ser estruturado à medida que eram escritos, o que justifica alguns desequilíbrios. Mas Oesterheld não se preocupava em esconder o jogo, pois declarou numa célebre entrevista a Carlos Trillo e Guilhermo Saccomano, publicada em Portugal na revista Tintin, que: “as faltas e indefinições de  Mort Cinder foram mais tarde elogiadas como uma descoberta acertada. Mas mentiria se afirmasse ter sido intencional. Na realidade, esse êxito, se assim se pode considerar, foi resultado das circunstâncias”.
Este carácter experimental está igualmente patente nos desenhos de Breccia, que, quando começou a desenhar a série, “não podia saber o que devia fazer, nem tão pouco comecei a ver o que os outros faziam”, optando por um estilo próprio, em que o jogo contrastante de luz e sombras e as figuras angulosas se adaptavam ao clima específico de cada história, ajudando a criar um ambiente de permanente tensão, com Breccia a variar as técnicas conforme as necessidades das histórias, como é o caso dos dois episódios passados na prisão, em que o trabalho do desenhador com tramas mecânicas é absolutamente notável e inovador.
Do mesmo modo, a iluminação que Breccia dá às suas pranchas, digna do melhor cinema expressionista, vai tornando-se cada vez mais dramática ao longo da série, fruto do próprio estado de espírito do desenhador, cuja primeira mulher estava à morte. Para esse efeito dramático contribui, e muito, a troca do “pincel frio que queima”, usado em Sherlock Time, pela lâmina que rasga a pele e as sombras, mais exactamente, lâminas de barbear utilizadas como espátulas, aspecto em que Breccia foi pioneiro e que resulta particularmente eficaz nos grandes planos dos rostos. Rostos sofridos, marcados pela vida e pelo destino, que não escondem uma profunda tristeza e sofrimento.
Igualmente inovador é o seu jogo de sombras em negativo e o preto e branco de alto contraste, aspecto que influenciou vários desenhadores, sendo Frank Miller, em Sin City, o exemplo mais evidente.
O próprio Oesterheld é o primeiro a reconhecer a importância do desenho de Breccia para o sucesso de Mort Cinder, ao dizer: “Há sofrimento, tormento em Mort Cinder. Isso reflecte talvez o meu estado de alma particular, mas o essencial dessa atmosfera vem de Breccia. Há uma quarta dimensão no seu desenho, uma capacidade de sugestão que o distingue da maioria dos desenhadores que conheço. É essa força constantemente aplicada, que dá ao seu desenho todo o seu valor e inflama a imaginação dos argumentistas.”
Em 1964, após terem sido publicadas mais de duzentas pranchas, correspondentes a dez episódios, em que Mort Cinder nos guiou da construção da Torre de Babel até às trincheiras da I Guerra Mundial, passando pela Batalha das Termópilas, em que 300 espartanos retardaram o avanço do poderoso exército de Xerxes, a série chega ao fim. O episódio dedicado à batalha das Termópilas é mesmo o último e nele, Mort Cinder, único sobrevivente das tropas espartanas, é deixado ir em paz pelo próprio Xerxes que, impressionado com a sua coragem lhe diz: “vai-te homem de Esparta... tu és mais Rei do que eu, és rei de ti próprio...”  Um último diálogo, que poderia funcionar como epitáfio do próprio Oesterheld, “desaparecido” em 1977, juntamente com as quatro filhas, e que, provavelmente durante o ano de 1978, terá pago com a vida o ter querido ser Rei de si próprio, numa terra onde os militares não tinham um milésimo da nobreza de espírito do Grande Rei Xerxes...
O grande investimento artístico e humano dos seus autores foi recompensado, pois não só Mort Cinderé tida como uma das séries mais importantes da BD mundial, como o próprio Breccia a considerava, muito justamente, como a melhor coisa que fizera.
Em Portugal, onde a obra de Oesterheld tem sido insuficientemente divulgada, Mort Cinder é honrosa excepção. O episódio O Vitral, foi publicado em 1979 no jornal Lobo Mau, numa época em que, na Argentina, Oesterheld, ligado à guerrilha montonera e na clandestinidade desde 1976, já tinha sido preso e já estaria morto.
O resto da série foi parcialmente editada em álbum pelas Edições Asa, já neste século, embora essa editora tenha lançado apenas Os Olhos de Chumbo, o primeiro dos dois volumes que compõem a série na edição francesa da Vertige Graphic, que serve de base à edição da Asa. Finalmente, graças à edição que têm nas mãos, está finalmente disponível numa edição integral, bastante mais fiel ao original e com superior qualidade de reprodução, esta magnífica série, ponto mais alto da frutuosa colaboração entre Alberto Breccia e Hector German Oesterheld. 

Um Punhado de Imagens da 2ª Mostra do Clube Tex Portugal

$
0
0
Quase uma semana depois, aqui vos deixo as minhas impressões da 2ª Mostra do Clube Tex Portugal, que decorreu no passado fim-de-semana no Museu do Vinho, na Anadia, a uma vintena de quilómetros de Coimbra. A convite do incansável José Carlos Francisco, tive oportunidade de fazer umas perguntas e moderar a conversa com Stefano Biglia, um dos dois desenhadores do Tex presentes (o outro era Pasquale Frisenda) na tarde de domingo.
Mas o grande dia desta mostra foi o sábado, com o lançamento pela Polvo da edição portuguesa de Patagónia, o Tex Gigante desenhado por Frisenda que já tinha tido distribuição em Portugal  em 2011, via edição brasileira da Mythos, de que falei aqui.
Para além de se tratar de um excelente livro, a edição da Polvo, apesar de ligeiramente mais pequena do que a edição da Mythos, compensa essa diferença de 3 cm na altura, com um tipo de papel muito superior à edição da Mythos que permite uma reprodução imaculada do traço de Frisenda, que capta todas as nuances do excelente trabalho de preto e branco de Frisenda. Com uma tiragem de apenas 500 exemplares, este segundo Tex "Made in Portugal" (o primeiro foi o volume 8 da colecção Série Ouro dos Clássicos da Banda Desenhada, lançada em 2003, como o jornal Correio da Manhã) tem tudo para ser um sucesso, face ao entusiasmo e à militância dos fãs portugueses do cowboy da editora Bonelli, pelo que não me admirava que a organização da Mostra e a Polvo, em próximas edições articulassem mais uma vez a vinda dos desenhadores, com a edição em português dos seus trabalhos.
Apenas consegui estar presente no sábado ao final da tarde, mas ainda deu para encontrar uma série de caras conhecidas destas andanças, como o João Amaral e a Cristina (a quem "roubei" a foto de grupo que publico neste post), o Geraldes Lino, Pedro Cleto, Ricardo Leite, Pedro Bouça, entre muitos outros que enchiam o Museu do Vinho.
Infelizmente, não tive grande ocasião de falar com Pasquale Frisenda, que, por razões familiares, apenas esteve presente no sábado, regressando a Itália logo de seguida, mas compensei no dia seguinte com Stefano Biglia, um ilustrador tão simpático como talentoso, que me fez uma belíssima "dedicace" em aguarela, que está entre as melhores da minha colecção.
Aqui vos deixo com um punhado de imagens desse fim-de-semana texiano, na sua maioria da autoria do fotógrafo Marco Guerra, que fez a cobertura do evento.

                            Foto de grupo na tarde de sábado
                           O jantar de sábado, na Nova Casa dos Leitões
                          Stefano Biglia a assinar o desenho que me fez
                     Exibindo o desenho para a fotografia de Marco Guerra
                     A belísima aguarela de Biglia, em todo o seu esplendor

Ric Hochet na nova colecção do Público: Capas, títulos e algumas considerações

$
0
0

Depois das Novelas Gráficas, a próxima colecção de BD a distribuir com o jornal Público, desta vez em parceria com a editora Asa, é um clássico da BD franco-belga, a série Ric Hochet, criada por Tibet e A P Duchateau  em 1955. A primeira aparição de Ric Hochet dá-se no nº 242 da edição belga da revista Tintin com a história curta Ric Hochet méne le Jeu,  em que o futuro jornalista é ainda um simples ardina de treze anos que se deslocava numa scooter, em vez do vistoso Porsche laranja que bem conhecemos. Só em 1963, um Ric Hochet entretanto tornado adulto se estreia numa história longa, com Traquenard au Havre, primeiro título de uma colecção que compreende 78 volumes, publicados a um ritmo, muito pouco habitual na BD franco-belga, de um novo álbum de oito em oito meses.
Com a morte de Tibet, a 3 de Janeiro de 2010, numa altura em que apenas tinha desenhado 28 páginas de À La Porsuite du Griffon D'Or, o 78º álbum da série que, à semelhança de Tintin et L'Alph Art, de Hergé, seria publicado exactamente como o desenhador o deixou, a série entrou num hiato, até a editora, aproveitando o 60ª aniversário da criação de Ric Hochet, decidir reviver o jornalista detective, através de uma nova equipa, constituída pelo argumentista Zidrou e pelo desenhador Simon Van Leimt, responsáveis pelo novo álbum, R.I.P. Ric, a lançar em França no fim deste mês e que, poucos dias depois, a 3 de Junho, abre esta colecção de 12 volumes dedicados aos Piores Inimigos de Ric Hochet.  Uma colecção composta por volumes de 48 páginas, em capa mole, com badanas e um preço de venda ao público de 5,40 €.
Não tendo tido ainda oportunidade de ler o livro e verificar se Zidrou soube ou não agarrar a personagem, já o traço de Vam Leimt, pelas páginas que vi,  parece-me algo apressado e bem longe da elegância "Linha Clara" tão característica de Tibet, mas será necessário ler o livro para emitir um juízo mais fundamentado.
Desta vez, o lançamento de o último álbum da série quase em simultâneo com a versão original francesa, parece-me uma muito boa ideia, ao contrário do que aconteceu com a série XIII, a anterior colecção Público/Asa, onde a novidade que abriu a colecção era a segunda parte de uma história, cuja primeira parte os leitores apenas puderam ler 11 semanas depois, no fim da colecção e a cuja conclusão, ainda por publicar em França, provavelmente nunca terão acesso em português...
O que já não me parece tão boa ideia, é repetir o álbum Ric Hochet contra o Serpente, já publicado numa anterior colecção Público/Asa, dedicada aos Clássicos da revista Tintin, até porque, numa série que conta com 78 títulos, não faltavam histórias inéditas em Portugal, que pudessem substituir com vantagem este segundo álbum da colecção.
 Com uma boa percentagem de álbuns inéditos em Portugal (como podem ver pela lista aqui ao lado, em que os títulos inéditos no nooso país estão assinalados a amarelo, são 8 em 12), a maior parte pertencentes à fase mais recente da série, esta nova colecção agradará certamente aos leitores que cresceram com a edição portuguesa da revista Tintin, de que Ric Hochet era um dos títulos mais populares.
Resta é saber se esses leitores nostálgicos serão em número suficiente para assegurar o sucesso da colecção que, tendo em conta o classicismo do traço e das histórias,em que a intriga policial ligeira mas bem escrita contrasta com algum maniqueísmo e ingenuidade no tratamento das personagens, com a excepção de Richard, o pai de Ric Hochet, em que a fronteira entre o bem e o mal está mais diluída, terá maiores dificuldades  em cativar um público mais novo. Um público que está habituado a outra dinâmica na narrativa, e que não acompanhou as aventuras do repórter detective desde a infância...














A Caminho de Beja

$
0
0
É já hoje que começa a décima primeira edição do Festival de BD mais simpático de Portugal e o que permite um contacto mais próximo e mais descontraído com os autores presentes: o Festival de Beja, organizado pelo incansável Paulo Monteiro.

Com uma série de convidados de peso, de que destaco Yslaire, Ted Benoit (que, aparentemente cancelou a viagem à ultima da hora, o que indica que estará apenas presente através do seu trabalho),Stanislas e o brasileiro Marcelo Quintanilha e a Polónia como país convidado, a programação promete um fim-de-semana intenso.
Podem ver aqui todas as informações sobre a programação e as 17 exposições, mas destaco dois amigos que têm livros novos para sair: André Caetano e Luís Louro, que regressa com o novo Jim Del Monaco.
Eu andarei por lá durante todo fim-de-semana, entre outras coisas, a servir de tradutor e moderador às conversas com Yslaire e Ted Benoit.
Para a semana aqui vos trarei o balanço do Festival e um punhado de imagens desta edição. Até lá, como diria o suadoso Engenheiro Sousa Veloso, "despeço-me com amizade"!

Diário de Notícias celebra o Mês da Ilustração em Setubal com edição ilustrada

$
0
0
A ideia não é nova, nem sequer em Portugal, mas é sempre bem-vinda. A edição de terça-feira, 2 de Junho de 2015, do Diário de Notícias troca as habituais fotografias pelo trabalho dos principais ilustradores nacionais. Este tipo de iniciativa é habitual em França, onde todos os anos, por altura do Festival de Angoulême o jornal Liberation surge ilustrado pelos principais autores de BD e ilustradores francófonos. por cá, na altura do Salão Lisboa, também o Público abriu as páginas à BD e à ilustração, numa iniciativa coordenada por João Paulo Cotrim, que também está à frente deste D.N. ilustrado que hoje esteve nos quiosques.
Com um desenho de André Carrilho na capa e um cartoon de João Abel Manta na última página, esta edição conta com imagens dos principais ilustradores nacionais, como Alex Gozblau, João Fazenda, João Maio Pinto e Nuno Saraiva, entre muitos outros.
Um dos pretextos para esta iniciativa é o evento É Preciso Fazer um Desenho?, um conjunto de mostras de ilustração, comissariadas por João Paulo Cotrim e Jorge Silva. Estas exposições vão animar a cidade de Setúbal durante este mês de Junho, mas a iniciativa começou logo no dia 31 de Maio com uma exposição dedicada a André Carrilho, o mais prestigiado ilustrador português contemporâneo a nível internacional, estando previstas também mostras dedicadas a Maria Keil, Lima de Freitas, João Abel Manta e Manuel João Vieira, que irão sendo inauguradas ao longo deste mês.
Se tudo correr como previsto, conto trazer-vos aqui, lá mais para o fim do mês, um punhado de imagens desta iniciativa a não perder por quem gosta de BD e ilustração.

Caçador de Autógrafos III - François Schuiten

$
0
0
Numa altura em que este blog tem estado bem mais parado do que eu gostaria, por causa das aulas e da nova colecção da Marvel que a Levoir vai lançar com o Público este Verão, lembrei-me de recuperar uma secção que tem andado bastante esquecida. Essa secção é o Caçador de autógrafos, em que mostro as "dedicaces" que me fez um determinado autor.
Agora chegou a vez de François Schuiten, um dos criadores da série As Cidades Obscuras e um autor tão simpático como talentoso, que nos deixou (a mim e ao João Ramalho Santos) explorar com grande cumplicidade o universo das Cidades Obscuras no livro As Cidades Visíveis, a cujo lançamento, em 1998, o próprio Schuiten fez questão de estar presente. Aquando da exposição Coimbra na Banda Desenhada, em 2003, Schuiten não pode estar presente fisicamente, mas fez o magnífico cartaz da exposição, que podem ver na imagem seguinte.
Desde essa altura, para além de duas idas a Bruxelas e das diversas visitas de Schuiten e Peeters ao Festival da Amadora, encontrámo-nos algumas vezes em Angoulême, durante o Festival de BD. Curiosamente, tal como aconteceu com os anteriores desenhadores presentes nesta secção (Eduardo Risso e Baudoin) também tenho um original de Schuiten, para além dos desenhos que me fez nos livros. Neste caso, uma das três ilustrações originais que fez para as Cidades Visíveis, com base nas fotografias de Coimbra que lhe mandei e que ele generosamente nos ofereceu
Para terminar, deixo-vos com imagens de De Schuiten à Geluck, um divertido portfólio com 20 ilustrações feito a duas mãos entre Schuiten e Geluck,(o autor da série Le Chat) em que cada um completa um desenho do outro. Um objecto tão curioso como raro, que Schuiten me deu de uma das vezes que estive em casa dele, em Bruxelas.
Cartaz para a exposição Coimbra na Banda Desenhada
Ilustração Original para o livro As Cidades Visíveis
Desenho no livro La Tour (1997)
Desenho no catálogo da Maison Autrique 
Desenho no livro Les Murailles de Samaris
Desenho no livro L'Ombre d'un Homme
Desenho na versão de grande formato do livro L'Archiviste
Uma das capas do portefólio De Schuiten à Geluck
A outra capa do portefólio
Um dos 20 desenhos que compõem este portefólio
Uma homenagem ao Tintin feita por Geluck e Schuiten

Ciclo de cinema Miyazaki e os Estúdios Ghibli, em Tomar

$
0
0

Tal como aconteceu o ano passado, com um ciclo sobre Banda Desenhada francesa no cinema, este ano voltei a colaborar com o Cineclube de Tomar, organizando uma pequena mostra dedicada a Hayao Miyazaki e aos Estúdios Ghibli, que vai decorrer esta semana, de quinta, 25, a sábado, 27 de Junho. Uma boa forma de comemorar os 30 anos dos Estúdios Ghibli, que se completam precisamente este mês.
Deixo-vos com o texto que escrevi para acompanhar o ciclo e que está também disponível no site do Cineclube.


MIYAZAKI E OS ESTÚDIOS GHIBLI

No preciso mês em que se comemora o trigésimo aniversário da criação, em Junho de 1985, pelos cineastas Hayao Miyzaki e Isao Takahata e pelo produtor Toshio Suzuki, dos Estúdios Ghibli, o lendário estúdio de animação japonês e os seus principais criadores estão em natural destaque no ciclo que o Cineclube de Tomar dedica este mês à animação japonesa.
Mesmo sem o saber, o público português que está actualmente entre os 30 e os 50 anos, já teve forçosamente contacto com o trabalho de Miyazaki e Takahata, mesmo que nunca tenham visto uma longa-metragem de animação dos estúdios Ghibli, pois estes dois criadores são responsáveis por inesquecíveis séries de animação, como Heidi, Marco, Ana dos Cabelos Ruivos e Conan, o Rapaz do Futuro, que passaram, por mais de uma vez, na televisão portuguesa.
E foi precisamente o sucesso dessas séries, não só em Portugal, mas no resto da Europa e no Japão, que ajudou a criar as condições para que, em 1984, os estúdios TopCraft desenvolvessem a primeira longa-metragem de animação de Miyazaki, baseado num mangá (uma Banda Desenhada japonesa) do próprio autor, Nausicaa of the Valley of the Wind. Ficção pós-apocalíptica, com um sopro épico e uma forte componente ecológica, Nausicaa foi um grande sucesso, que incentivou Miyazaki e Takahata a comprarem os estúdios TopCraft, então à beira da falência e criarem os estúdios Ghibli
Com três nomeações e um óscar para o Melhor filme de Animação, atribuído a A Viagem de Chiiro, o japonês Hayao Miyazaki é um nome maior do cinema de animação mundial e tem naturalmente o destaque principal na programação deste ciclo de cinco filmes, assinando a realização de três desses cinco filmes.
Assim, na quinta-feira, 25 de Junho, os espectadores terão a oportunidade rara de ver num ecrã de cinema As Asas do Vento, o último filme de Miyzaki, de 2013, que em Portugal saiu directamente em DVD. Derradeiro filme de Miyazaki como realizador, pois o cineasta declarou no Festival de Veneza de 2013, que se ia reformar, As Asas do Vento, que foi nomeado para o Óscar de Melhor Animação, é uma biografia de Jiro Horikoshi, o criador do famoso Mitsubishi A6M Zero, o avião usado pelos japoneses durante a 2ª Guerra Mundial.
Extremamente poético e melancólico, com toques fellinianos e uma extraordinária beleza plástica, As Asas do Vento é visto como o filme-testamento de Miyazaki, não só pelo tema da aviação, bem presente em outros filmes do realizador, como Nausicaa, ou Porco Rosso, mas até pelo próprio título, que remete para a criação dos Estúdios Gihibli, pois Ghibli é o nome árabe do Sirocco, um vento quente vindo do Mediterrâneo, termo escolhido porque o estúdio queria fazer soprar um “vento de mudança no mundo da animação”.
Na sexta-feira, dia 26, chega a vez da programação infantil, com a exibição pelas 15h30m, em versão dobrada em português, de O Castelo Andante, filme dirigido por Miyazaki, em 2004, que adapta o livro Howl's Moving Castle, de Diana Wynne Jones. Uma obra que narra as aventuras de Sophie, uma adolescente que é transformada por uma bruxa, numa velha de 90 anos. Misturando a fantasia com um ambiente steampunk, O Castelo Andante é um bom exemplo da capacidade de Miyazaki de criar filmes que agradam tanto às crianças, como aos adultos.
Finalmente, no sábado dia 27, o ciclo de animação japonesa dos Estúdios Ghibli termina em beleza, num dia verdadeiramente em cheio, que contempla a exibição de três filmes, dois dirigidos ao público mais novo, em versões dobradas e o último em versão original com legendas em português.
Logo a abrir o dia, às 11h, temosO Reino dos Gatos, o único filme deste ciclo que não é dirigido por nenhum dos fundadores dos Estúdios Ghibli. Realizado por Hiroyuki Morita, em 2002, O Reino dos Gatos, foi concebido inicialmente como uma curta-metragem de 20 minutos, encomendada por um parque temático japonês sobre gatos, mas o estúdio ficou tão entusiasmado com o trabalho de Morita e com o carisma de Haru, o personagem principal, que decidiu transformar a curta-metragem, numa longa-metragem para cinema, que levou três anos a terminar.
Pelas 15h30m passa o mais popular (e também o mais premiado) filme de Miyazaki,A Viagem de Chihiro. Realizado por Miyazaki em 2001, o filme ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2002 e o Óscar de de Hollywood para a Melhor Animação em 2003. Ao reconhecimento crítico, aliou-se o apoio do público, pois A Viagem de Chihiro destronou o Titanic de James Cameron do primeiro lugar do box office japonês, tornando-se o maior sucesso de bilheteira da história do cinema japonês, com o público a aderir em massa à viagem iniciática de Chihiro, uma menina de 10 anos que vai parar a um mundo mágico, onde os pais são transformados em porcos e ela é obrigada a trabalhar como criada para os Kami, as criaturas mágicas do folclore japonês, presentes em outros filme de Miyazaki, como O Meu Vizinho Totoro.
Para terminar o ciclo, temos às 21h30m de sábado, O Conto da Princesa Kaguya, de Isaho Takahata, um filme de 2014, que é a última produção dos Estúdios Ghibli, cuja actividade foi bastante reduzida, depois da passagem à reforma de Miyazaki.
Realizado por Takahata, o autor do magnífico O Túmulo dos Pirilampos, num estilo de grande depuração visual e elegância estilizada, que o afasta da imagem gráfica mais habitual dos Estúdios Ghibli, tal como de resto acontecia com outro de filme de Takahata, Os Meus Vizinhos Yamada, o Conto da Princesa Kaguya é baseado numa lenda tradicional japonesa e foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação.
Cinco filmes, entres as mais de vinte longas-metragens realizadas até ao momento pelos Estúdios Ghibli, que espelham a qualidade e a diversidade da produção do mítico estúdio japonês e dos seus criadores. Homens de grande talento e sensibilidade, que criaram verdadeiras obras-primas da animação, pensadas principalmente para um público infanto-juvenil, mas que não deixam de conquistar os adultos que ainda não perderam a capacidade de sonhar e de se maravilhar. Ou seja, todos aqueles que gostam de cinema.

Ted Benoit

$
0
0

Terminou o Festival de Beja sem que eu chegasse a fazer o prometido post com um punhado de imagens do mais agrádavel Festival de BD em Portugal. em vez disso, deixo-vos com o texto que escrevi para o catálogo do Festival, sobre Ted Benoit. 
Infelizmente, por razões de saúde, Benoit teve que cancelar à ultima da hora a sua presença em Beja, tal como aconteceu também com Yslaire (neste caso, sem qualquer justificação...). Mas a verdade é que a ausência de dois nomes com este peso, mal se fez notar, pois os seus originais estavam lá e a edição foi uma das mais animadas de sempre, confirmando que o excelente trabalho de Paulo Monteiro e da sua equipa resiste bem a este "pequenos" contratempos.

TED BENOIT, DA LINHA CLARA À CAMERA OBSCURA

Um dos melhores seguidores da Linha Clara, termo criado por Joost Swarte para definir o estilo de Hergé e de outros autores da escola de Bruxelas, Ted Benoit, é mais conhecido por ter sido o responsável gráfico pelo regresso de Blake e Mortimer, após a morte de Jacobs, ilustrando O Caso Francis Blake e O Estranho Encontro, dois livros escritos por Jean Van Hamme. Mas, naturalmente, a carreira de Ted Benoit, autor que regressa a Portugal, depois de uma passagem em 1997, pelo Festival da Amadora, não se resume à sua ligação à série Blake e Mortimer.
O autor francês, nascido em 1947, estreou-se na Banda Desenhada em meados da década de 70, nas páginas da revista Metal Hurlant, depois de ter tirado o curso de altos estudos cinematográficos e trabalhado em televisão. Depois da Metal Hurlant, seguiu-se a revista Echo des Savanes. E se as primeiras histórias que aí publicou mostram um autor em busca de um estilo próprio, sendo visíveis a influência de Moebius em Carnets de Voyage (1976) e de Tardi em Hôpital (1977), já no seu trabalho seguinte, Aux Premieres Loges, escrito por Jacques Lob, é bem visível a influência da Linha Clara e do trabalho de Hergé e de Joost Swarte, algo que Benoit assume claramente, dizendo: "o desenho de Hergé estava tão ancorado no nosso inconsciente colectivo que se tornou uma ferramenta. Era como desenhar com um lápis, ou um pincel."
Essa reinvenção da linha clara, misturada com a estética do cinema americano dos anos 50, já evidente nas histórias de Bingo Bongo, publicadas na Metal Hurlant, concretiza-se perfeitamente nas aventuras de Ray Banana, o seu personagem fetiche, que faz a estreia na revista (A Suivre) com Berceuse Electrique e que regressa em Cité Lumiere, uma aventura de Ray Banana, passada em Paris, no ambiente da arte contemporânea, cuja cor é da responsabilidade dos Estúdios Hergé.
Em Portugal, para além dos álbuns da série Blake e Mortimer que ilustrou, foram também editados Cidade Luz e O Homem de Nenhures, uma história escrita por Pierre Nedjar e protagonizada por Thelma Ritter, a empregada de Ray Banana.
Desde a publicação de O Estranho Encontro, em 2001, Benoit trocou a BD pela publicidade e pela ilustração, actividades bem mais rentáveis para um ilustrador. Até que, em 2013, dá-se o regresso à BD com a edição de Camera Obscura, uma recolha dos seus trabalhos iniciais, publicados originalmente nos anos 70 e 80 e com La Philosophie dans la Piscine, livro que assinala o regresso de Ray Banana, numa série de histórias curtas pré-publicadas no Blog do autor, em que a Linha Clara dá lugar a um traço mais solto e espontâneo, resultante da troca do pincel por simples esferográficas Bic.
Texto publicado originalmente no Splaft!nº 11, revista/catálogo do Festival de Beja, em Maio de 2015

Evocando Jayme Cortez... na semana do aniversário da sua morte

$
0
0
Recordou-me o Blogue BDBD, de Luiz Beira e Carlos Rico, uma data que me tinha passado despercebida: a do aniversário da morte de Jayme Cortez, falecido a 5 de Junho de 1987.
Apesar da sua ligação à revista Mosquito, onde se estreou na BD, Cortez acabou por ter uma importância muito maior para a BD brasileira, pois imigrou para o Brasil em 1947, com 21 anos e foi nesse país que desenvolveu uma carreira impressionante no campo da Banda Desenhada e da ilustração, sendo o grande responsável pelo aparecimento de uma geração de autores de histórias de terror, para além de ter participado directamente na organização primeira exposição sobre Banda Desenhada, que teve lugar em São Paulo, em 1951.

A sua actividade no campo da BD e da ilustração foi tão vasta como variada, tendo trabalhado nos Estúdios Maurício de Sousa, feito ilustração publicitária, publicado livros sobre desenho, trabalhado em animação e desenhado cartazes para cinema, com destaque para a sua colaboração com José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão, que o usou como actor em três dos seus filmes.
Mas o melhor e mais completo retrato da sua longa carreira, encontra-se na Revista Gráfica Digital Memo que lhe dedica os seus dois últimos números, o nº 5, que abrange o período que vai de 1926 a 1954, e o nº 6, que cobre os anos de 1954 a 1987. Ambos os números da revista superiormente dirigida por Toni Rodrigues podem (e devem) ser descarregados em pdf de forma gratuita no endereço da revista, cujo link está umas linhas acima neste post.
Para além de um riquíssimo acervo de ilustrações, que inclui inúmeras referências fotográficas, usadas pelo desenhador para as capas que desenhou, a revista reproduz ainda várias histórias completas de diferentes períodos da carreira de Cortez, desde Uma Espantosa Aventura, a primeira história que desenhou para o Mosquito, até às duas versões de O Retrato do Mal, a segunda das quais comentada pelo próprio autor.
Aqui vos deixo com um punhado de páginas destas duas magníficas revistas que dão o merecido destaque a um nome grande da BD nacional, que foi ainda maior no Brasil.
             Vários exemplos do uso de modelos para as ilustrações das capas
          Capas de Jayme Cortez para as edições brasileiras de E. T. Coelho
                                    Jayme Cortez e a ilustração publicitária
                           A colaboração entre Jayme Cortez e Zé do Caixão
                                A versão comentada de O Retrato do Mal

Oesterheld em destaque no nº 18 da revista Bang!

$
0
0

Já está disponível nas lojas FNAC o último número da revista Bang! que, como é habitual conta com um texto meu, neste caso sobre o legado de Hector G. Oesterheld no terror e na ficção científica. Novela Gráfica, Oesterheld está em destaque neste número da excelente revista gratuita da Saída de Emergência.
Depois do sucesso da edição portuguesa de Mort Cinder, que foi um dos volumes mais vendidos da colecção
Mas, para os fãs da BD, esse não é o único ponto de interesse da revista., que traz também um excelente artigo de Pedro Piedade Marques sobre o projecto abortado da adaptação de Dune por Alejandro Jodorowsky, a apresentação do projecto Figuras Clássicas do Terror, uma exposição, comissariada por Bruno Caetano, com a participação de ilustradores portugueses da craveira de Jorge Coelho, Nuno Duarte, Pedro Brito, Rui Lacas e Ricardo Cabral e uma entrevista com João Leitão, o realizador de Capitão Falcão, personagem que, depois do cinema, pode chegar à BD.
Nas próximas semanas, aqui deixarei o texto sobre Oesterheld , mas, até lá, fica a sugestão para que procurem a revista Bang! na FNAC mais próxima.

Apresentação da Colecção Poderosos Heróis Marvel

$
0
0
É já na próxima quinta-feira, 23 de Julho, que começa a 4º colecção do Público e da Levoir dedicada à Marvel. Como de costume, aqui vos deixarei, na véspera da saída de cada livro, o texto que escrevi sobre ele para o jornal Público. Mas antes disso, aqui fica o destacável de 4 páginas de apresentação da colecção, que vai ser distribuído hoje com o  jornal de sábado e será redistribuído na próxima terça-feira.

PODER E RESPONSABILIDADE

With great power comes great responsibility”. Esta frase (um grande poder acarreta uma grande responsabilidade), dita por Ben Parker ao seu sobrinho Peter, antes de este ser picado por uma aranha radioactiva e se transformar no Homem-Aranha, funcionou com um mantra para a vida do herói e foi frequentemente repetida por outros heróis da Marvel. E este axioma, que representa bem o facto desses poderes, que tanto podem ser uma bênção como uma maldição e distinguem esses heróis do resto da humanidade, não poderem ser utilizados de animo leve, acaba por balizar a actuação dos heróis da Marvel. Esta necessidade de os heróis não desperdiçarem os dons que os tornam únicos, está presente na maioria das histórias desta nova colecção da Marvel. Uma colecção de quinze volumes de capa dura, com histórias inéditas em Portugal, que o Público e a Levoir dedicam às personagens da Casa das Ideias que, desta vez, abandona as grandes sagas que reúnem diferentes heróis, para se centrar individualmente nos mais poderosos heróis do Universo Marvel.
Mas, como não há regra sem excepção, a colecção abre e fecha com duas sagas, que reúnem um grande número de heróis. A abrir temos uma saga épica assinada por Brian Michael Bendis, que já tinha escrito as sagas que serviram de fio condutor à colecção anterior (Invasão Secreta, Cerco e Vingadores vs X-Men) e que tem como protagonista os Vingadores em luta com Ultron, o poderoso robot que está no centro do segundo filme dos Vingadores. A fechar, temos a continuação do incontornável Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross, publicado na anterior colecção Universo Marvel, em que Busiek continua a contar a história do Universo Marvel na perspectiva do fotógrafo Phil Sheldon, com Jay Anacleto a substituir Alex Ross na arte.
O resto da colecção consiste no regresso dos poderosos heróis que já conhecemos e em três estreias, que serão analisadas em separado. Assim, regressa o Homem de Ferro, numa história clássica assinada por John Byrne e Paul Ryan em que Tony Stark enfrenta o Mandarim e Fin Fang Foom. Heróis clássicos como O Homem-Aranha, Justiceiro e Wolverine estão presentes em histórias em que o universo dos heróis é submetido à forte marca autoral de criadores como Todd McFarlane, Garth Ennis e Steve Dillon e Frank Cho. Ed Brubaker prossegue a sua passagem incontornável pelas aventuras do Capitão América, contando desta vez com a companhia de Steve McNiven (Guerra Civil, Wolverine: O Velho Logan) para construir uma dupla de luxo. Waren Ellis ocupa-se da nova vida dos X-Men, contando com o traço único de Simone Bianchi na arte. Peter David regressa ao Incrível Hulk para, ao lado de George Perez e Dale Keown, assinar duas histórias incontornáveis do crepúsculo do gigante verde. O Demolidor está de volta numa história que introduz um novo interesse romântico na vida de Matt Murdock e assinala a estreia de David Mack na personagem, contando com o virtuosismo de Joe Quesada nos desenhos e finalmente, o poderoso Thor prossegue as suas aventuras desenhadas por Olivier Coipel, contando com Matt Fraction, um dos mais talentosos e versáteis argumentistas da actualidade, no argumento.
Tal como os poderosos heróis da Marvel sabem estar à altura da responsabilidade que esses mesmos poderes acarretam, também o Público e a Levoir tinham a responsabilidade perante os leitores e fãs da Marvel, de apresentar uma quarta série que mantivesse, ou superasse, o alto nível das anteriores colecções dedicadas à Casa das Ideias. Perante a selecção dos títulos aqui apresentados e a qualidade dos nomes que os assinam, parece-me que não restam muitas dúvidas de que, mesmo sem grandes poderes, os editores estiveram mais uma vez à altura da sua grande responsabilidade…


NOVOS HERÓIS E NOVOS AUTORES

Embora, depois dos 45 volumes com histórias da Marvel publicados desde 2012, a grande maioria dos heróis da Casa das Ideias já seja bem conhecida dos leitores do Público, ainda há espaço nesta colecção para a estreia de três poderosos heróis, em volumes individuais. São eles, por ordem de entrada em cena, a Viúva Negra, Homem-Formiga e Gavião Arqueiro.

Viúva Negra 
Criada por Stan Lee, Don Rico e Don Heck em 1964, nas páginas do nº 52 da revista Tales of Suspense, onde enfrenta o Homem de Ferro, a Viúva Negra é Natasha Romanoff, uma espia soviética. Mas, anos depois, a Viúva acabaria por passar para o Ocidente, mudar de uniforme para o fato colante que hoje conhecemos e envolver-se sentimentalmente com alguns heróis, como o Gavião Arqueiro e o Demolidor. Além disso, tornou-se agente da S.H.I.E.l.D. e membro dos Vingadores, o grupo que reúne os mais poderosos heróis da Marvel.
O passado de Natasha como agente russa é explorado precisamente nas duas histórias do volume que lhe é dedicado, em que descobrimos que ela não foi a única Viúva Negra formada pelo Quarto Vermelho, um departamento secreto do KGB. É precisamente a relação entre Natasha Romanoff eYelena Belova, a sua sucessora, que está no centro dessas histórias.

Homem-Formiga
Criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby em 1962, no nº 25 da revista Tales to Astonish, o Homem-Formiga original era Henry “Hank” Pym, um cientista que descobriu uma formula que lhe permite reduzir a sua massa e altura a dimensões microscópicas.
Mas Henry Pym foi apenas o primeiro Homem-Formiga, pois Scott Lang, um homem que roubou o fato de Homem-Formiga para poder salvar a vida da sua filha, acabaria por assumir o papel de Homem-Formiga, com a bênção do seu mentor, Hank Pym, o Homem-Formiga original. E é precisamente Scott Lang, o segundo Homem-Formiga, criado por David Micheliene e John Byrne em 1979, que é o protagonista do mais recente filme da Marvel, acabado de chegar às salas de cinema.

Gavião Arqueiro
Criado por Stan Lee e Don Heck em 1964, no nº 57 da revista Tales of Suspense, Clint Barton, o Gavião Arqueiro começou por ser um vilão, mas rapidamente se redimiu e tornou-se um dos mais antigos membros dos Vingadores, compensando a sua ausência de poderes especiais, com uma pontaria infalível com arco e flecha. Tal como aconteceu com a Viúva Negra, a sua presença nos filmes dos Vingadores contribuiu para aumentar exponencialmente a sua popularidade junto dos leitores da Marvel.
Nas premiadas histórias de Matt Fraction e David Aja com que se estreia nesta colecção, o destaque vai, não para o herói, Gavião Arqueiro, mas para o homem, Clint Barton, cujo dia-a-dia na cidade de Nova Iorque acompanhamos.

Mas não apenas de heróis se fazem as estreias desta colecção. Também há grandes autores, ou equipas criativas, cujo talento a dar vida aos poderosos heróis da Marvel podemos apreciar pela primeira vez em português nesta colecção. Mais uma vez, por ordem de entrada em cena:

Todd McFarlane
Este desenhador e argumentista de origem canadiana foi um dos fundadores da editora Image e criador da personagem Spawn, já adaptada ao cinema e à animação, mas a sua carreira começou em meados da década de 80, trabalhando tanto para a Marvel, como para a DC.
Foi precisamente a sua ligação ao Homem-Aranha, nos finais dos anos 80 que o tornou uma verdadeira estrela dos comics, graças ao seu estilo tão dinâmico e inovador, como pormenorizado. Tormento, a história desta colecção que escreveu e desenhou, permite perceber facilmente os motivos do extraordinário sucesso da sua inovadora versão do Homem-Aranha.

Garth Ennis e Steve Dillon
Nomes maiores dos comics de língua inglesa, o escritor irlandês Garth Ennis e o desenhador inglês Steve Dillon são conhecidos sobretudo pela sua colaboração na série de culto Preacher, mas Ennis, que é um dos mais produtivos argumentistas de língua inglesa, tem uma vastíssima carreira espalhada por editoras como a DC, Vertigo, Marvel, Avatar e Dynamite, entre (muitas) outras.
Esta história do Justiceiro, marcada por um humor muito negro, que volta a juntar os dois criadores britânicos, é um dos pontos mais altos da ligação de nove anos de Garth Ennis ao mais popular vigilante da Marvel.

David Mack e Joe Quesada
 O escritor e pintor americano David Mack tornou-se conhecido no mundo dos comics graças à série Kabuki, que criou, escreveu e desenhou, num estilo único, em que a pintura e a colagem se fundem com a Banda Desenhada.
Na história do Demolidor que assina nesta colecção, Mack alia-se a Joe Quesada, anterior editor-Chefe, actual Director Criativo da Marvel e extraordinário ilustrador, responsável pela recuperação da popularidade do Demolidor, através da Linha Marvel Knights de que foi editor, para juntos criarem uma história inesquecível, onde surge pela primeira Maya (Eco) Lopez, uma das mais carismáticas mulheres que passaram pela vida do herói cego.

Frank Cho
O ilustrador norte-americano de origem coreana, Frank Cho começou a sua carreira  na BD com a tira de imprensa University2  para o jornal da Universidade de Maryland onde estudou. Seguiu-se outra tira de imprensa, Liberty Meadows, que escreveu desenhou durante cinco anos, até se fartar da censura do editor e da pressão de ter produzir uma tira diária.
Embora já fizesse capas ocasionalmente para a Marvel e outras editoras, foi o seu trabalho na série Liberty Meadows que levou o editor Alex Alonso a convidá-lo a desenhar uma mini-série de Shana The She-Devil para a Marvel, o que lhe permitiu desenhar as duas coisas de que mais gosta: dinossauros e mulheres sensuais. E Shana é precisamente uma das protagonistas da história do Wolverine que assina nesta colecção, qua alia a aventura clássica à indiana Jones com elementos fantásticos, característicos do universo de Lovecraft, tudo servido pelo seu traço de grande elegância e sensualidade.

A COLECÇÃO

1 – Vingadores: A Era de Ultron - Vol. 1
23 de Julho
Argumento – Brian Michael Bendis
Desenhos – Bryan Hitch e Paul Jenkins
Ultron, a mais terrível das Inteligências Artificiais e um dos mais antigos inimigos dos Vingadores, destruiu o planeta Terra! Confrontados com o fim, um pequeno grupo de super-heróis tenta desesperadamente resistir. Luke Cage descobriu o segredo da vitória de Ultron, mas é Wolverine que terá de tomar a mais difícil e controversa das decisões. Uma decisão que poderá levar à criação de um novo Universo Marvel.
Brian Michael Bendis, narra esta saga grandiosa, ilustrada pelo talento ímpar de Bryan Hitch.


2  – Vingadores: A era de Ultron – Vol. 2
30 de Julho
Argumento – Brian Michael Bendis
Desenhos – Brian Hitch, Brandon Peterson e Carlos PachecoNa sequência do terrível ataque de Ultron, que comandou a destruição do planeta a partir de um futuro distante, os Vingadores têm de viajar no tempo para tentar salvar o seu mundo. Mais do que conseguir vencer o seu inimigo, os Vingadores terão de conseguir viver com as consequências das suas acções no passado, quando as linhas temporais colidirem entre elas até sobreviver apenas um Universo Marvel!
Com argumento de Brian Michael Bendis, Era de Ultron conta com a arte de Bryan Hitch, Brandon Peterson e Carlos Pacheco, nomes maiores dos comics americanos.
3  – Homem de Ferro: Semente de Dragão
06 de Agosto
Argumento –  John Byrne
Desenhos – Paul Ryan

O maior inimigo do Homem de Ferro, o Mandarim, surgiu mais poderoso que nunca, mas por trás do poder dos seus dez anéis, parecem erguer-se as sombras de dez dragões místicos... um para cada anel! Apresentando a origem de Fin Fang Foom, um dos vilões mais icónicos da Marvel, Semente de Dragão é uma saga clássica do Homem de Ferro com argumento de John Byrne e desenho de Paul Ryan e Mark Bright.


4  – Viúva Negra: O Manto da Viúva
13 de Agosto
Argumento – Devin Grayson e Greg Rucka
Desenhos – J. G. Jones
A vida de Natasha Romanov sempre foi muito movimentada - espia soviética, refugiada no Ocidente, assassina profissional e Vingadora, a sua carreira letal tornou-a famosa em todo o mundo. Mas agora, os seus dias como Viúva Negra podem ter chegado ao fim. Yelena Belova, a nova Viúva Negra, pretende reclamar o manto que ela acha que foi roubado à Mãe Rússia. A batalha das duas Viúvas vai levá-las das ruas geladas de Moscovo e dos desertos do Médio Oriente, às ruas de Nova Iorque.
Duas histórias assinadas por dois grandes argumentistas dos comics, Greg Rucka e Devin Grayson, com arte de Igor Kordey e J.G. Jones.
5  – Homem-Aranha: Tormento
20 de Agosto
Argumento  e Desenhos – Tod McFarlane
A vida corre bem ao Homem-Aranha, numa das mais invulgarmente estáveis fases da sua vida, mas velhos inimigos erguem-se novamente para destruir essa felicidade em Tormento. Ameaças vindas do passado do herói vão atacá-lo quando ele menos espera, mais selvagens e vingativas do que nunca, decididas não só a vencer o Aranha, mas a destruí-lo por completo.
Todd McFarlane, lendário artista e criador, assinala aqui a obra que não só ergueu o Homem-Aranha a novos níveis de popularidade nos anos 90, como também ajudou a mudar as regras do jogo da própria indústria dos comics.

6  – Justiceiro; A Ressurreição de Ma Gnucci
27 de Agosto
Argumento – Garth Ennis
Desenho –  Steve Dillon e Jimmy Palmiotti
Na sua cruzada implacável contra o crime, um dos mais coriáceos inimigos que Frank Castle, o Justiceiro, teve de enfrentar, foi a maquiavélica Ma Gnucci, líder da família Gnucci, uma das mais poderosas famílias mafiosas de Nova Iorque. Apesar de ter sido lançada para a jaula de um urso polar, de ter perdido braços e pernas e ter sido atirada para uma casa a arder, Ma Gnucci sobreviveu e está de volta para se vingar… e não veio sozinha.
Garth Ennis e Steve Dillon, a dupla responsável pela série de culto Preacher voltam a aplicar a sua receita de sucesso ao mais popular vigilante da Marvel, numa história tão violenta como divertida.

7  - X-Men: Caixa Fantasma
30 de Setembro
Argumento – Warren Ellis
Desenho – Simone Bianchi
Os X-Men já passaram por muitas peripécias e transformações, e depois da Feiticeira Escarlate ter reduzido drasticamente o número de mutantes no mundo, a sua posição parece cada vez mais delicada. Mas agora, com uma nova base de operações, um novo uniforme e uma equipa reformulada, vão ter de mergulhar numa aventura como nunca enfrentaram antes, que os levará de uma investigação policial em São Francisco a um cemitério de naves alienígenas em Wakanda, e quem sabe mais além...
Uma saga com argumento de Warren Ellis, um dos mais prestigiados escritores de comics da actualidade, e arte magnífica do italiano Simone Bianchi, desenhador de Wolverine: Evolução.


8  – Homem-Formiga: Um Mundo Pequeno
10 de Setembro
Argumento – Stan Lee e David Michelinie
Desenhos – Jack Kirby, John Byrne, Tim Seeley
O último herói da Marvel a chegar ao grande ecrã, tem aqui as suas origens e as suas mais emblemáticas aventuras recontadas para o público português. Génio ímpar, super-herói atormentado e ocasional vilão, Hank Pym pode não ser o mais poderoso nem o mais famoso dos heróis, mas poucos deixaram a sua marca no Universo Marvel como ele.
Reunindo o talento de Stan Lee, Jack Kirby, David Michelinie, John Byrne e Tim Seeley, este volume introdutório serve como mostruário do tipo de aventuras do Cientista Supremo da Terra, que provam que os homens, de facto, não se medem aos palmos.
9  –  Capitão América: Sonhadores Americanos
17 de Setembro
Argumento – Ed Brubaker
Desenhos -  Steve McNiven, Giuseppe Camuncoli
Steve Rogers volta finalmente a assumir o papel de Sentinela da Liberdade depois de uma longa ausência. Mas quando o funeral da sua antiga companheira Peggy Carter é interrompido por um ataque, o Capitão América vai ter de desvendar uma conspiração envolvendo um grupo de antigos camaradas de armas, que incluem Jimmy Jupiter, um jovem herói que era capaz de viajar para uma dimensão em que os desejos se tornavam realidade...
Ed Brubaker, argumentista de Soldado do Inverno, e Steve McNiven (desenhador de Wolverine: Velho Logan e Guerra Civil), mergulham-nos numa aventura que alterna entre o presente e o passado do Capitão América.

10  –  Wolverine: Ilha da Morte
24 de Setembro
Argumento  e Desenhos – Frank Cho
Wolverine acorda um dia na Terra Selvagem, onde contando apenas com a ajuda de Shana, a mulher-diabo, vai ter que enfrentar dinossauros, as tribos selvagens da ilha, gorilas gigantes e uma ameaça mortal vinda dos confins da galáxia.
Frank Cho, um dos mais populares desenhadores americanos da actualidade, empresta o seu traço único e sensual a esta história épica, onde a natureza é luxuriante, os cenários grandiosos, as mulheres são belas e os dinossauros assustadores.

11  –  Demolidor: Partes de um Todo
01 de Outubro
Argumento – David Mack
Desenhos – Joe Quesada, David Ross e Jimmy Palmiottti

O advogado cego Matt Murdock parece ter descoberto o amor da sua vida em Maya Lopez, uma bailarina surda. Só que, tal como Matt Murdock é o Demolidor, também Maya tem uma identidade secreta como Eco, uma lutadora mortífera que Wilson Fisk, o Rei do Crime, convenceu a matar o Demolidor
O pintor e escritor David Mack junta-se ao editor-chefe da Marvel, Joe Quesada, numa espectacular aventura do homem sem medo, que explora de forma inovadora os limites da página de BD e da ligação texto/imagem.


12  –  Thor: Coração do Mundo
08 de Outubro
Argumento –  Matt Fraction
Desenhos – Olivier Coipel
Conflitos intergalácticos e ameaças apocalípticas não são estranhos ao Poderoso Thor, mas qualquer evento que traga a atenção do Surfista Prateado e a de Galactus a Midgard é motivo de preocupação. E, quando esta é direccionada para Asgard, torna-se um problema urgente.
Matt Fraction e Olivier Coipel, responsáveis pela revitalização de Thor em anos recentes, levam novamente o Deus do Trovão ao limite numa aventura épica na melhor tradição das sagas cósmicas da Marvel.
13  –  Gavião arqueiro: quem pelo Arco Vive
15 de Outubro 
Argumento – Matt Fraction
Desenho –  David Aja
Ele é um dos Heróis Mais Poderosos do Mundo, mas Clint Barton - o Gavião Arqueiro - nem sempre está de uniforme. Matt Fraction, uma das revelações dos comics americanos, mostra-nos as aventuras do Gavião quando não está a ser um super-herói. Este não é o Gavião Arqueiro dos Vingadores. É Clint Barton nas ruas de Brooklyn, a braços com a máfia russa e os seus vizinhos...
Nunca soube tão bem roubar aos ricos e maldosos para dar aos pobres, mas Clint Barton terá de saber distinguir o que um Vingador pode fazer, daquilo que um simples aventureiro pode ousar.

14  –  Hulk: Futuro Imperfeito
22 de Outubro
Argumento – Peter David
Desenhos – George Pérez e Dale Keown
O Incrível Hulk é o protagonista de duas histórias assinadas por Peter David, que projectam o futuro do Gigante Verde. Em Futuro Imperfeito, superiormente ilustrada por George Pérez, o  Hulk viaja para um futuro apocalíptico, onde tem que enfrentar o seu maior desafio… a versão futura de si próprio.
Em O Fim, ilustrada por Dale Keown assistimos a aquela que é literalmente a última aventura do herói, sozinho num mundo desolado, onde é o último ser humano vivo.

15  –  Marvels : Através da Objectiva
29 de Outubro
Argumento - Kurt Busiek
 Desenho – Jay Anacleto
A história do Universo Marvel volta a ser contada na perspectiva do fotógrafo Phil Sheldon, mas o futuro que se anunciava brilhante, deu lugar a um presente sombrio, em que personagens como o Justiceiro, Wolverine, ou o Motoqueiro Fantasma tornam cada vez mais ténue a fronteira entre os heróis e os vilões.
Kurt Busiek regressa ao universo do seminal e premiado Marvels, desta vez na companhia de Roger Stern e de Jay Anacleto (A Magia de Aria), para partilhar com os leitores a última reportagem de Phil Sheldon

Poderosos Heróis Marvel 1- Vingadores. Era de Ultron 1

$
0
0

OS VINGADORES ENFRENTAM ULTRON 
NA ABERTURA DA NOVA COLECÇÃO DA MARVEL

Poderosos Heróis Marvel
Vol 1
Vingadores: Era de Ultron - Vol. 1
Argumento – Brian Michael Bendis
Desenhos – Bryan Hitch e Paul Neary
Quinta, 23 de Julho
Por + 8,90 €
É já na próxima quinta-feira que os super-heróis da Marvel regressam ao Público para aquela que é a quarta colecção que o jornal e a Levoir dedicam á “Casa das Ideias”. Uma colecção de histórias inéditas, que se prolongará pelas próximas quinze semanas, até dia 29 de Outubro.
Depois da anterior colecção, mais centrada no universo Marvel como um todo, balizada pelas grandes sagas cósmicas, que juntam os maiores heróis e os mais terríveis vilões, chegou a hora de dar novamente destaque às aventuras individuais dos mais poderosos heróis da Marvel. Heróis que o leitor bem conhece, como os Vingadores, Homem de Ferro, X-Men, Wolverine, Capitão América, Justiceiro, Homem-Aranha, Hulk, Demolidor e Thor, a par com outros que têm pela primeira vez a oportunidade de brilhar individualmente junto dos leitores portugueses. É o caso do Homem-Formiga, cujo filme já está nas salas de cinema de todo o mundo, da Viúva Negra, presença regular nos filmes dos Vingadores e do Gavião Arqueiro, que chega a Portugal na premiada versão de Matt Fraction e David Aja.
A abrir a colecção, temos um título que foge a essa filosofia, pois centra-se no universo Marvel como um todo, que se une para combater Ultron, a inteligência artificial que está também em destaque no último filme dos Vingadores. Apesar das semelhanças no título, não estamos perante a Banda Desenhada que inspirou o filme de Joss Whedon, até porque o segundo filme dos Vingadores não segue nenhuma BD em particular, indo buscar inspiração a diferentes histórias, adaptando-as às necessidades específicas do Universo Marvel no cinema. Aliás, a própria personagem de Ultron é bem reveladora dessas diferenças entre a BD e o cinema. Criado por Roy Thomas e John Buscema em 1968, na revista Avengers, Ultron surge como uma criação ficcional de Hank Pym, o Homem-Formiga, que é também um dos grandes cientistas do universo Marvel e membro dos Vingadores, ao contrário do que acontece no cinema, onde é criado por Tony Stark, o Homem de Ferro. O que se mantém comum é o ódio de Ultron à raça humana, que o leva a tentar exterminá-la por todos os meios.
Era de Ultroné a última grande saga da Marvel arquitectada por Brian Michael Bendis, que conclui aqui um percurso de sagas épicas centradas nos Vingadores, iniciado com Guerra Civil e prosseguido em sagas como Invasão Secreta, Cerco e Vingadores vs X-Men contando com a presença do britânico Bryan Hitch no desenho para assegurar um final em beleza. Hitch, que emprestou um fôlego épico aos Supremos (a versão dos Vingadores do Universo Ultimate, escrita por Mark Millar), mostra mais uma vez ser o homem certo para uma história com esta grandiosidade e sopro épico.
A história de a Era de Ultron, saga que vai ocupar os dois primeiros volumes da colecção Poderosos Heróis Marvel, passa-se num futuro próximo, em que os robots ao serviço de Ultron conquistaram o mundo, restando apenas um pequeno grupo de heróis na clandestinidade para os combater. Depois de perceberem que, em condições normais, nunca conseguiriam derrotar Ultron, só resta aos heróis regressar ao passado, para tentar modificar o presente e evitar um futuro apocalíptico. No fundo, uma premissa com alguns pontos de contacto com uma história clássica dos X-Men, que os leitores do Público já puderam descobrir numa colecção anterior, o incontornável Dias de um Futuro Esquecido, de Chris Claremont e John Byrne, explicitamente homenageada neste volume, numa cena em que os nomes dos heróis são mostrados em fotos numa parede, lembrando a capa de John Byrne para o clássico dos X-Men.
E, terminado este volume, só restará ao leitor ansioso aguardar uma semana, para finalmente descobrir como conseguiram os Vingadores viajar no tempo e pôr fim à era de Ultron.
Publicado originalmente no jornal Público de 17/07/2015

Poderosos Heróis Marvel 2 - Vingadores: Era de Ultron 2

$
0
0

VINGADORES COMBATEM ULTRON 
ENTRE O PASSADO E O FUTURO

Poderosos Heróis Marvel
Vol 2
Vingadores: Era de Ultron - Vol. 2
Argumento – Brian Michael Bendis
Desenhos – Bryan Hitch, Brandon Peterson e Carlos Pacheco
Quinta, 30 de Julho
Por + 8,90 €
Como vimos no primeiro volume desta saga, que assinala a despedida de Brian Michael Bendis dos Vingadores, Ultron, a poderosa inteligência artificial está prestes a concretizar o seu plano de destruição total da humanidade. Nova Iorque, São Francisco e Washington estão completamente em ruínas e tudo indica que o resto do mundo não estará muito melhor. O robot Ultron parece ter conseguido finalmente atingir os seus objectivos, com os poucos humanos que ainda restam a tentar sobreviver por entre os escombros, patrulhados por robots sentinelas que eliminam sem piedade qualquer resistência que encontram. Num esconderijo subterrâneo por baixo de Central Park, os heróis que ainda estão de pé tentam reerguer-se das cinzas, liderados por um Capitão América que parece ter baixado os braços e perdido a esperança. Neste grupo encontram-se também outros heróis como o Gavião Arqueiro, Homem-Aranha, Homem de Ferro, Tempestade, Mulher-Hulk, Luke Cage, Emma Frost, Mulher Invisivel e Wolverine.
Percebendo que os robots vigilantes ao serviço de Ultron pouparam a vida a alguns vilões desde que estes denunciem os heróis sobreviventes, o plano de ataque torna-se simples. Conquistar a fortaleza do vilão por dentro, recorrendo aos dois elementos mais poderosos do grupo: Luke Cage e Mulher-Hulk, com o primeiro a fingir entregar a segunda como prisioneira, para juntos terem acesso ao local. O plano corre mal, a Mulher-Hulk é assassinada e Cage fica à beira da morte, na sequência de uma explosão nuclear que dizima Manhattan. Os heróis fogem para a Terra Selvagem, onde Emma Frost lê os últimos pensamentos de Cage antes de morrer e fica a saber a verdade sobre o vilão que enfrentam: Ultron afinal está no futuro a manipular todos os acontecimentos, usando o corpo do andróide Visão – uma criação sua - como veículo para os seus planos.
Mas há entretanto uma esperança: a Viúva Negra, de rosto desfigurado, e o Cavaleiro da Lua, descobriram numa base antiga de Nick Fury em São Francisco, um incrível plano de contingência para uma situação tão desesperada. Juntamente com o Hulk Vermelho, eles acabam de juntar-se aos nossos heróis na Terra Selvagem e utilizando a tecnologia recolhida por Fury, Wolverine e Susan Storm, a Mulher-Invisível voltam atrás no tempo, para impedirem Hank Pym de criar Ultron.
Como sabe qualquer leitor que tenha lido o conto clássico A Sound of Thunder, de Ray Bradbury, ou visto, por exemplo a trilogia do Regresso ao Futuro, de Robert Zemeckis, qualquer alteração mínima do passado tem consequências imprevisíveis no futuro e assim, a eliminação de Hank Pym tem um efeito muito diferente do pretendido pelos nossos heróis, acabando por afectar de forma drástica a própria estrutura dos diferentes universos.  
Em termos artísticos, Bendis conta com uma nova equipa gráfica nesta segunda parte da história. Se no primeiro volume, Bryan Hitch e Paul Neary asseguraram a arte, neste segundo volume, esta dupla apenas é responsável pelo primeiro capítulo, cedendo as funções de desenhador central a dois autores: Brandon Peterson, um talento reconhecido pelo seu trabalho nas séries Codename: Strykeforce, para a Top Cow, e Uncanny X-Men, que desenha as sequências passadas no presente, enquanto  o espanhol Carlos Pacheco, cuja experiência em histórias que envolvam viagens no tempo ficou bem patente em Vingadores para Sempre!, a história de Kurt Busiek publicada na anterior colecção Universo Marvel, encarrega-se das cenas no passado. Já o capítulo final da saga é assinado por uma mão cheia de ilustradores que, além de Hitch, Peterson e Pacheco, incluem Alex Maleev, Butch Guice, David Marquez, e mesmo o editor-chefe da Marvel, Joe Quesada, cujo incrível talento como desenhador os leitores vão poder conhecer um pouco melhor num próximo volume desta colecção dedicado ao Demolidor e que aqui empresta o seu traço poderoso à estreia no Universo Marvel de Angela, a sensual caçadora de demónios criada por Neil Gaiman e Todd McFarlane na série Spawn.
Publicado originalmente no jornal Público de 24/07/2015

Poderosos Heróis Marvel 3 - Homem de Ferro: Semente de Dragão

$
0
0
O HOMEM DE FERRO ENFRENTA O MANDARIM 

Poderosos Heróis Marvel
Vol. 3
Homem de Ferro: Semente de Dragão
Argumento – John Byrne
Desenhos – Paul Ryan e Bob Wiacek
Quinta, 06 de Agosto
Por + 8,90 €

O regresso do Homem de Ferro às colecções que o Público e a Levoir dedicam aos poderosos heróis da “Casa das Ideias” está marcado já para a próxima quinta-feira, numa aventura que o leva à China comunista, logo após o massacre de Tiananmen, onde tem de enfrentar dois vilões clássicos ainda desconhecidos dos leitores portugueses: o Mandarim e o dragão Fin Fang Foom.
Embora o Mandarim fosse uma das personagens do terceiro filme do Homem de Ferro, não se pode dizer que o vilão interpretado no cinema por Ben Kingsley fosse particularmente fiel ao Mandarim original da BD. Este é o típico vilão oriental, na linha do Fu Manchu de Sax Rohner, ou do Imperador Ming, da série Flash Gordon, de Alex Raymond, cujos anéis de poder de origem alienígena fazem dele um inimigo à altura do Homem de Ferro e presença recorrente nas suas histórias, desde a sua primeira aparição em 1964, no nº 50 da revista Tales of Suspense, pelas mãos de Stan Lee e Don Heck
Já o dragão Fin Fang Foom é anterior mesmo ao próprio Universo Marvel, sendo um dos inúmeros monstros criados por Stan Lee e Jack Kirby na revista Strange Tales, em 1961, ou seja, numa época em que as histórias de monstros eram extremamente populares e dois anos antes do Quarteto Fantástico trazer os super-heróis de novo para a ribalta, dando início à Silver Age (era de Prata), também conhecida como Era Marvel.  

São estes dois personagens clássicos, que surgem aqui actualizados pelo talento de John Byrne, que assegura o argumento desta saga marcada pelo confronto entre Oriente e Ocidente, em que o poder do dinheiro acaba por ser mais importante do que as ideologias. Se os leitores conhecem Byrne sobretudo como desenhador de clássicos incontornáveis dos X-Men, publicados em anteriores colecções, como A Saga da Fénix Negra, ou Dias de um Futuro Esquecido, aqui podem descobrir outra faceta do autor, que entrega a arte ao profissionalismo de Paul Ryan e Bob Wiacek, dois veteranos da Marvel que se revelam perfeitamente à altura do desafio.
Publicado originalmente no Jornal Público de 31/07/2015

Recordando Barefoot Gen, nos 70 anos de Hiroshima

$
0
0

O facto de hoje se cumprirem 70 anos sobre o bombardeamento americano a Hiroshima, onde pela primeira vez foi utilizada um bomba atómica, com os efeitos que se conhecem, pareceu-me o pretexto ideal para recuperar neste espaço um texto que escrevi em 1997 para o fanzine Nemo, publicação superiormente dirigida por Manuel Caldas, onde me estreei a escrever sobre BD em 1993, já lá vão mais de 20 anos! Esse texto é sobre Barefoot Gen, um manga autobiográfico de Keiji Nakasawa, um sobrevivente de Hiroshima, que passou as suas memórias para o papel. Deixo-vos com esse texto.

DESCALÇO EM HIROSHIMA

Um dos muitos méritos de Maus de Art Spiegelman, é o de demonstrar a capacidade da BD para transmitir com eficácia todo o horror e o absurdo de situações limite da história da humanidade, como foi o caso do Holocausto. Mas, antes de Maus, já uma BD japonesa (cuja influência no seu trabalho, o próprio Art Spiegelman reconhece de forma implícita) tinha revelado essa mesma capacidade de descrever o indescritível e representar o irrepresentável, ao captar de forma notável o drama das vítimas do bombardeamento nuclear que arrasou Hiroshima. Barefoot Gen (Hadashi no Gen no original) de Keiji Nakazawa é essa obra pioneira.
Publicado entre 1972 e 1973 nas páginas da revista SHUKAN SHONEN JAMPU, a mais popular revista semanal japonesa, com uma tiragem superior a dois milhões de exemplares, Barefoot Gen foi o primeiro manga a chegar ao Ocidente, graças ao esforço de um grupo de jovens de Tóquio, que incluía vários não japoneses, entre os quais o americano Fredrik Schodt (um dos maiores especialistas mundiais em BD japonesa), que considerou a mensagem da obra de Nakazawa demasiado importante para que o Ocidente a pudesse continuar a desconhecer. Nascia assim em 1976 o Project Gen, organização não lucrativa e constituída exclusivamente por voluntários, que procedeu à tradução da série, conseguindo a sua edição integral em quatro volumes nos EUA e em Inglaterra, para além da tradução do primeiro volume em francês, alemão, esperanto, norueguês e sueco. Distribuído essencialmente no circuito de livrarias, Barefoot Gen acabou por passar praticamente despercebido à maioria dos leitores de comics, que só descobririam os manga anos mais tarde, graças à publicação em meados de 80, pela First Comics, de Lone Wolf and Cub (Kozure Okami no original), de Kojima e Koike, uma das séries favoritas de Frank Miller, que assegurou as capas e a introdução dos doze primeiros números.
É caso para se dizer que esses leitores menos atentos não sabem o que perderam, pois se, conforme referiu Domingos Isabelinho, alma é "o lugar de reencontro com o vivido, as cicatrizes deixadas em nós pela realidade", não há dúvida que Barefoot Gen"tem alma até Almeida".
A série é baseada na experiência pessoal de Keiji Nakazawa e a maioria das personagens e situações são reais ou inspiradas em experiências presenciadas ou mesmo vividas pelo autor. Tal como Gen, o protagonista da sua história, Nakazawa tinha sete anos quando rebentou a bomba atómica sobre Hiroshima, tendo apenas sobrevivido graças a um muro de cimento que o protegeu da explosão. Também ele perdeu o pai e dois irmãos no inferno nuclear e viu morrer a irmã de quatro meses, nascida logo após o bombardeamento, devido a má nutrição. Tendo conseguido sobreviver ao inferno que o rodeava, a sua principal preocupação, como o próprio refere, foi tentar esquecer os horrores da bomba atómica:
"Quando me tornei autor de manga, a última coisa que queria fazer era escrever sobre os horrores da bomba A. Odiava a simples menção da palavra. Acreditando que a BD deve ser divertida e fazer as pessoas felizes, dediquei a minha carreira a desenhar histórias de ficção científica e de baseball.
Mas, em Outubro de 1966 — vinte e um anos após a bomba —, a minha mãe morreu. Sofrendo de uma série de maleitas, a sua vida após a bomba tinha sido cheia de sofrimento. Quando o seu corpo foi cremado, descobri algo que me fez tremer de raiva: nada restou dos seus ossos! Normalmente os ossos resistem à cremação, mas a radioactividade do césio comeu os ossos da minha mãe, reduzindo-os a cinza. A bomba A roubou-me tudo, incluindo os preciosos ossos da minha mãe. A raiva fervia dentro de mim, e pela primeira vez confrontei a Bomba. Senti então a necessidade de escrever sobre a tragédia que nos atingiu a todos. Senti como se a minha mãe me dissesse para revelar ao mundo toda a verdade sobre a bomba que destruiu Hiroshima".
Convém esclarecer os leitores menos familiarizados com a cultura oriental, que o culto dos antepassados e dos seus restos mortais é um costume profundamente enraizado na tradição religiosa japonesa, sendo natural a existência nas casas de família de pequenos altares familiares onde se veneram os restos dos entes queridos, o que explica o choque e a revolta de Nakazawa, privado de qualquer vestígio da sua mãe. Por isso, Barefoot Gen, para além de um poderoso grito contra o esquecimento, é também um doloroso exercício catártico, única forma encontrada pelo autor para exorcizar o fantasma da sua família, cuja memória ao ser evocada nas páginas de Barefoot Gen encontrou finalmente a paz.
Ainda antes de Barefoot Gen, Nakazawa começa em 1968 a abordar o trágico acontecimento que marcou toda a sua vida, primeiro com duas histórias de estilo didáctico e meramente informativo, Kuroi Amé ni Utareté (Sob a Chuva Negra) e Aru Hi Totsuzen (Subitamente um Dia) e em seguida com Ore Wa Mita (Eu vi!), relato autobiográfico que em apenas quarenta e seis páginas condensa os acontecimentos mais tarde desenvolvidos nas nove centenas de páginas de Barefoot Gen.
Para desempenhar o papel de seu alter-ego na que seria a sua obra definitiva sobre os horrores de Hiroshima, Nakazawa escolheu o jovem Gen Nakaoka, cujo nome em japonês significa "raiz", ou "fonte". Nome com uma elevada carga simbólica, como o próprio autor explica: "Dei o nome de Gen ao meu personagem na esperança de que ele se torne uma raiz ou fonte de força para uma nova geração da humanidade — aquela que pisa descalça o martirizado solo de Hiroshima, sentindo a terra debaixo dos pés, com força para dizer não às armas nucleares... Eu próprio gostaria de viver com a força de Gen — é esse o meu ideal e vou continuar a persegui-lo através do meu trabalho."
O primeiro dos quatro volumes que compõem a série é dedicado essencialmente à caracterização do Japão durante a guerra. Retrato realista e sem maniqueísmo de uma época de carência e privações, em que o espírito militarista incentivado pelas autoridades japonesas e a fé cega na invencibilidade das tropas japonesas, guiadas pelo Imperador Deus, são duramente criticados.
Neste poderoso libelo anti-militarista, Nakazawa revela-se extremamente eficaz na descrição do histerismo bélico que invadia a população japonesa e que levou, uma vez consumada a derrota, ao suicídio colectivo de centenas de mulheres e crianças, que escolhiam essa "morte honrosa" em vez de se renderem aos "demónios americanos". Num ambiente de furor patriótico habitual em época de guerra, Gen e a sua família são segregados e discriminados, devido às posições pacifistas do seu pai. Hostilizado pelos colegas de escola, ignorado pelos vizinhos, Gen vê o seu pai ser preso e espancado, a irmã publicamente humilhada e a colheita da família destruída, tudo isto perante o olhar indiferente e muitas vezes hostil dos vizinhos, com excepção de Pak, um coreano também ele ostracizado devido à sua origem e que será o único a apoiar a família Nakaoka.
Perante este ambiente hostil e insustentável, Koji, o irmão mais velho de Gen, que não tinha a mínima vontade de morrer pelo Imperador, alista-se como voluntário na marinha, procurando assim evitar que a família fosse marginalizada por não querer participar ainda mais no esforço de guerra. Essa decisão de Koji, que lhe permitiu confrontar a dura realidade da guerra, representada por personagens como o piloto kamikaze que tenta desertar por não se sentir preparado para a sua missão suicida, muito provavelmente acabaria por lhe salvar a vida, pois de outro modo estaria em Hiroshima no fatídico dia 6 de Agosto de 1945, em que uma única bomba riscou a cidade do mapa, matando dezenas de milhar de pessoas e marcando para sempre a vida dos sobreviventes.  
A forma como o lançamento e a explosão da bomba atómica são contadas em apenas três das quase novecentas páginas que compõem esta saga semi-autobiográfica (muito longe do espectáculo pirotécnico do Akira de Otomo, onde uma única explosão chega a ocupar 15 páginas), alerta-nos para outro aspecto importante da obra de Nakazawa: a questão da manipulação do tempo, que se contrai ou dilata de uma forma perfeitamente articulada às necessidades narrativas, evitando a espectacularidade gratuita, mas sem abdicar dos efeitos dramáticos.
A passagem dos dias é dada pelo sol nascente, um sol ardente e estilizado, símbolo ao mesmo tempo dos ciclos naturais da vida que se renovam, do deserto em que Hiroshima se tornou e da própria bandeira japonesa.
Claro que os leitores menos habituados à estética e aos mecanismos narrativos dos manga (como parece ser o caso de Harvey Pekar, a avaliar pelas observações que fez à série) sentirão alguma estranheza perante o desenho caricatural e quase disneyano de Nakazawa, claramente na linha do grafismo de Osamu Tezuka, o mestre incontestado da BD japonesa. Do mesmo modo, a forma exagerada como os personagens exprimem os seus sentimentos, desde a raiva e tristeza à alegria, estão dentro dos padrões habituais da BD japonesa, e tem a sua origem na mímica do teatro Kabuki, uma das influências reconhecidas dos manga.
Algo de semelhante sucede com a representação da violência doméstica, apresentada de um modo exagerado, mais próximo dos desenhos animados (uma simples estalada do pai projecta Gen contra a parede; de cada vez que um personagem leva um murro na cabeça, nasce-lhe imediatamente um galo de grandes dimensões, etc.) do que seria de esperar numa obra de grande intensidade dramática, inspirada em factos reais. Embora nos pareça bizarro, tudo isto é perfeitamente natural em termos da BD japonesa, onde o irrealismo das cenas de acção é algo extremamente comum, e onde a fronteira entre os diferentes géneros (humor, acção, terror, romance, drama, erotismo) não é tão rígida como no Ocidente.
Vencidas essas ténues barreiras culturais, o leitor descobre uma história notável e ao mesmo tempo terrível. Apesar do seu aspecto caricatural, o traço de Nakazawa consegue-nos transmitir perfeitamente a angústia de Gen ao ver os seus pais soterrados nos escombros; o sofrimento dos moribundos que arrastam as carnes derretidas pela bomba; o desespero daqueles que perderam tudo e para quem continuar vivo significa apenas o prolongar da agonia; a impotência dos que, tendo escapado aparentemente ilesos, vêem a radiação corroer-lhes o corpo; o comportamento mesquinho das pessoas, quando as necessidades básicas da sobrevivência se sobrepõem aos valores morais, como a caridade e amizade; o ridículo de um grupo de sobreviventes que apedreja o cadáver de um americano, como se isso lhes permitisse vingar a destruição das suas vidas... Enfim, todos os cambiantes de um quadro complexo, mas terrivelmente real, estão nesta história, bem reveladora da capacidade da BD para transmitir de forma compreensível toda a dimensão de uma tragédia impensável, mas que não pode ser esquecida.
Contudo, no meio de todo o sofrimento e dor, onde surgem os inevitáveis abutres, dispostos a ganhar dinheiro com o mercado negro e o contrabando de víveres, ainda há espaço para a esperança, simbolizada por Gen. É ele que evita o suicídio de uma jovem bailarina, desfigurada pelas queimaduras provocadas pela radiação, do mesmo modo que é também graças a Gen que Seiji, um jovem pintor a quem a explosão mutilou e desfigurou (o que permite a Nakazawa abordar o problema dos mutilados e inválidos, quase marginalizados pelas famílias para quem a sua presença é uma lembrança constante de acontecimentos que querem a todo o custo esquecer) acabará por encontrar forças para voltar a pintar, agora com a boca, pois as mãos estavam inutilizadas, arranjando assim uma forte motivação para se manter vivo.
E a história termina com um gesto pleno de simbolismo, através do qual Gen exorciza o espectro de horror e destruição da bomba atómica: a plantação de sementes na terra calcinada do que antes tinha sido a sua casa. Para que do solo martirizado de Hiroshima a vida volte a nascer!
Publicado originalmente no fanzine Nemo nº 28, de Dezembro de 1997
Viewing all 411 articles
Browse latest View live